Qual o segredo para vencer o “inerrável”?

Há uma década quando Yao Ming estava lesionado e o Houston Rockets precisava de alguém que assumisse seu papel, a solução foi um jogador improvável. Chuck Hayes era 30 centímetros mais baixo que Yao (1,98cm “apenas”), o que na época fez dele o menor pivô titular na história da NBA. Chuck também não era um chutador exímio ou dos mais atléticos, mas seu jogo de costas pra cesta, quase que inanimado no post, e a eficiência nos rebotes fez dele um dos favoritos da torcida, ganhando o apelido de Chuckwagon. [cozinha de campo]

Na noite de ontem, P.J. Tucker ancorou a turma do small ball do Rockets causando sérios danos ao todo poderoso Golden State Warriors. P.J. é um jogador totalmente diferente de Hayes, mas seu espírito e estatura são tão similares que na última temporada sua unidade recebeu a alcunha de “Tuckwagon lineup”. E rapaz, a turma da cozinha tem sido vital para colocar a virada no menu de Houston. Eles batalharam, se uniram e criaram o espaço necessário para James Harden soltar o fogo que agora acumula nos olhos.

No processo eles descobriram um jeito de explorar os erros de um Warriors que muitos consideravam “inerrável”. Dá uma olhada nos números, como o técnico do Rockets Mike D’Antoni mudou as coisas:

Na primeira rodada contra o Utah Jazz, Mike utilizou P.J. de pivô apenas 8% das vezes. Nos primeiros três jogos da série contra o GSW subiu para 14%. Na noite de ontem foi praticamente metade do jogo. Juntando tudo, Houston jogou quase 45 minutos da série contra os Warriors com o Tucker na posição cinco e nesse tempo tem superado o Golden State por 21 pontos. E nada disso é uma alfinetada para o Clint Capela, que quando esteve em quadra ontem serviu de válvula de escape para o Rockets que realmente precisava.

Entretanto, o Warriors tem rotacionado Capela para longe do garrafão com tanta frequência que uma mudança claramente precisava ter sido feita. E no último jogo todas essas alterações deram a Houston o tipo de bravura que eles precisavam quando os chutes começaram a falhar. E rapaz, como falharam. O Rockets estava na frente por 15 pontos faltando 9 minutos para acabar o jogo quando subitamente ficaram alérgicos a cesta. Harden errou uma bola de 3pt, depois outra, depois outra. Foram seis erros seguidos. Mas por sorte do Houston, o Golden State não estava no seu momento inerrável.

Steph Curry veio de uma boa sequencia no final do jogo 3, mas tem tido dificuldades nos playoffs. Foram 34 erros de 3pt nos primeiros confrontos da série contra o Houston Rockets, sua pior marca num período de quatro jogos de playoffs da carreira. Mas quando o arremesso realmente importava Curry estava lá. Nos minutos finais do jogo de ontem, Steph pegou um rebote do seu próprio erro e trouxe o Warriors de volta pro jogo com dois pontos de diferença, faltando 15 segundos no relógio. Logo depois Harden erra um dos seus lances livre e, francamente, começou a fomentar o sentimento de que a prorrogação era inevitável.

Exceto que Kevin Durant errou uma cesta completamente sozinho seguido de Curry que também perdeu sua tentativa de três para empatar o jogo. Não tenho certeza se algum dia escreverei essa frase novamente, mas o Rockets precisava do erro dos dois melhores jogadores de um dos times mais inerráveis da história da NBA. E conseguiram. Claro, o Houston Rockets também tem jogadores talentosos, seu elenco é liderado por um cara que vai terminar no Top 2 dos mais votados para MVP em quatro dos cinco últimos anos. Mas ontem a noite o jogo foi decidido mais pela gana que talento em quadra, como reconhecido pelo técnico do Golden State Steve Kerr:

Eles têm vários jogadores de futebol americano no elenco e nós parecíamos jogadores de vôlei: altos e magros. Nós jogamos contra diferentes tipos de time e todo mundo tenta jogar fisicamente contra nós porque eles devem. Este é o melhor jeito de nos vencer.

[They’ve got a lot of middle linebackers on that team. They’re sturdy]

Ele tem razão. A única coisa que falta para Klay Thompson se transformar num jogador de volêi é colocar as duas mãos atrás das costas para indicar a jogada. Dali não tem saído muitos lances que o confirme como um profissional da bola laranja. Contudo não é que o Rockets tenha incorporado trogloditas do futebol americano no seu elenco, mas a gana e o espírito de Chuckwagon para fazer o “inerrável” errar.

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